O "caso" Nani é ilustrativo da nossa mentalidade. Muita tinta correu sobre o facto de estar ou não lesionado, extrapolando que a sua exclusão se devia a indisciplina, recusa a controlos anti-doping ou mesmo a uma disputa pessoal com o treinador, entre n outras explicações. Bem, uma coisa é verdade, criatividade não nos falta.
Em tudo vemos sinais, nas palavras do seleccionador ("decisão mais difícil da carreira"), do Nani (" numa semana estou bom"), e mesmo o facto de ele abrir a porta do carro com o braço esquerdo, indicava que havia tramoia das boas. Episódio que só poderia ser resolvido com um parecer externo e agora afinal a lesão de Nani leva mesmo 4-6 semanas a recuperar, segundo um médico da FIFA.
O facto é que este é um dos nossos piores defeitos. Sermos desconfiados. Acreditarmos que ninguém dá "ponto sem nó". Não digo que seja totalmente infundado. Acho no entanto que numa óptica de custo/benefício, é algo que claramente não compensa. O tentarmos observar as segundas intenções em tudo o que se faça, encarando isto como um meritório e elaborado exercício intelectual sai-nos muito caro. Porquê? Basta vermos que este sistema de permanente desconfiança é uma das razões para que sejamos dos mais improdutivos na Europa, focando-nos sempre no acessório e nunca no essencial. O acreditarmos num bem nacional que supere as realidades comezinhas é um factor chave para superarmos a situação actual.
É óbvio que me irão dizer que com os líderes actuais, há que ser desconfiado até porque governam sempre em causa própria. O que eu digo é que é essa permanente desconfiança que faz com que isso seja legítimo. Se estamos sempre à espera que os membros do poder sirvam os seus interesses, não será surpreendente quando o fizerem, e pelo facto de não sermos surpreendidos e chocados por isso, eles não sofreram as repercussões devidas.
A base de um sistema eficiente deverá ser: o acreditar no bem comum, o dar o benefício da dúvida, e o punir dos responsáveis quando não cumprirem o seu dever.
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