Deixa-me triste e desapontado, embora não fique surpreso com esta nossa miopia. Um "estudo" relativamente recente concluiu que os portugueses são muito tolerantes com a corrupção. Nada de novo, comenta-se. Parece que somos bastante condescendentes com a “corrupção que produza efeitos benéficos para a sociedade”. A expressão em si é paradoxal e infeliz. Não conheço qualquer tipo de corrupção que seja benéfica e que venha suprir injustiças sociais como se subentende na notícia com a analogia com Robin dos Bosques. Os eufemismos “cunha”, ou o “dar o jeitinho” e “mexer os cordelinhos” significam na prática corrupção. E nada há de benéfico nisto.
É importante frisar que o recrutamento de alguém por cunha, seja por filiação partidária, por laços familiares ou afectivos, tem inúmeras externalidades negativas. Seja a descredibilização da instituição em causa, a fraca produtividade do empregado por ter as “costas quentes”, ou o efeito negativo que terá para a empresa/organismo,etc o facto de não ser a melhor pessoa para o lugar, no contacto com clientes/utentes e no desempenho das suas tarefas. Para já não falar que este atentado à meritocracia mina o nosso sistema de educação e de aquisição de competências, pela ausência de incentivos.
A corrupção, mesmo na sua forma supostamente menos gravosa, o dar o jeitinho, pode custar vidas, o que com alguma probabilidade acontece diariamente no acesso a dezenas de hospitais portugueses.
Será que não nos apercebemos da correlação (se me permitem, causalidade) entre os índices de transparência e os de IDH ou PIB per capita?
O que mais me intriga é a origem desta corrupção encapotada. Será puramente uma questão de tráfico de influência, tipo "eu coço as tuas costas e tu as minhas" ou algo mais? Será pelo contentamento de ajudarmos alguém que nos é mais próximo ou pelo facto de não sermos assertivos o suficiente para rejeitar um pedido de um amigo, conhecido ou parente? Seremos uma nação de cobardes? Possivelmente.
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