Quando nos perguntamos do ponto de vista estrutural qual o valor acrescentado que hoje em dia os europeus ainda trazem à cadeia de valor, encontramos normalmente a inovação à cabeça.
Ameaçados por mais baixos custos industriais, agrícolas e de serviços de empresas dos países denominados como emergentes, bem como pelas sua crescente produtividade e menores restrições a nível de lei laboral, a inovação e desenvolvimento de ideias seriam o nosso ás de trunfo neste competitivo mundo empresarial.
A cadeia de valor seria: nós criamos a ideia (sim, estou a incluir um Portugal de bicos de pés neste rol de países), desenhamos o produto e depois este será produzido em países que minimizem os custos de fabrico. Posteriormente, a necessidade para o produto é criada, ou melhor, exponenciada pelos nossos magos de publicidade, ou seja, novamente do lado de cá.
A manter-se este modelo, a grande parte do valor criado ficaria no mundo ocidental, até porque sem a criação da ideia e principalmente da necessidade todo o resto do processo traria um valor económico nulo.
O mundo está no entanto a mudar. Num dossier recente do Economist sobre inovação em países emergentes, encontrei este artigo que fala sobre "frugal innovation", que representa inovação a nível do redesenho de produtos, processos e modelos de negócios. Parte muitas vezes da adequação dos modelos de negócios às realidades locais. Acho por exemplo admirável o caso do Devi Shetti, que detém hospitais na India, onde a partilha de informação, economias de escala, e a optimização de processos, lhe permitiram fazer com que preço de uma operação ao coração possa custar menos de 90% do que nos Estados Unidos, com taxas de sucesso idênticas e rentabilidade superior à média dos Hospitais privados americanos.
Podemos advogar que este tipo de inovação é consistente com a inovação levada a cabo na Europa ou Estados Unidos. Que pode coexistir. Sim, penso que sim, para já. Mas não podemos considerá-la um parente pobre. Até porque ela parte da necessidade para a ideia e não ao contrário.
Mesmo na fase a jusante da cadeia de valor os países emergentes darão cartas. Aliás, já dão. Não é por acaso que a Unilever instalou o seu Concept Center em Xangai e os melhores criativos de marketing já se encontram a trabalhar na Ásia. Neste mercado com com pouca fidelidade a marcas (visto serem um conceito relativamente novo), a publicidade é feroz. Com grande parte dos consumidores do futuro a serem provenientes da classe média destes países, não é muito difícil de ver onde serão feitos os maiores avanços na publicidade e na tal exponenciação das necessidades.
Qual será então o nosso papel no mundo? O truque é olhar para estes países como oportunidades a explorar, para colocar os nossos produtos, já que as necessidades já estão a ser criadas. E não devemos ter vergonha de ser esta a nossa vez de copiarmos alguns modelos criados nestes países. E não nos esqueçamos de que neste momento ainda temos o nosso papel de relevo no mundo, com as melhores práticas de gestão a ainda estarem do lado das empresas no mundo ocidental (talvez não em Portugal).
Devemos olhar para o mundo de uma forma global e não estranharei se daqui a uns anos (não muitos), os chamados BRIC, (aliás, deveria ser BIC) estiverem a absorver a maioria dos nossos talentos.
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